Conferências do IFSP, 8º Congresso de Iniciação Científica e Tecnológica do IFSP

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Produção do Espaço Urbano e Segregação Socioespacial em Santos – SP
Murilo Folene Aires

Última alteração: 2017-11-14

Resumo


Área de conhecimento (Tabela CNPq): 7.06.01.03-8 Geografia Urbana

 

 

Apresentado no

8° Congresso de Inovação, Ciência e Tecnologia do IFSP

06 a 09 de novembro de 2017 - Cubatão-SP, Brasil

 

RESUMO: A produção do espaço urbano é realizada socialmente no âmbito das ações de múltiplos agentes, os quais produzem o espaço a partir de seus interesses, sejam eles econômicos ou de necessidades básicas, como no caso os movimentos de luta por moradia. O trabalho que se segue buscou analisar a estrutura da cidade, enfatizando cidades situadas em regiões litorâneas, resultado da lógica capitalista de produção do espaço em determinadas áreas que são priorizadas pelos agentes econômicos e Estado em detrimento de outras, o que resultou em contextos de segregação socioespacial. Diante disso, a análise se deu sobre a estrutura da cidade de Santos-SP, a partir da investigação de dados disponibilizados pelo IBGE 2000 e 2010 e na elaboração de representações cartográficas com o uso de sistemas de informações geográficas. Isto permitiu que identificar contextos de segregação socioespacial na cidade de Santos-SP, e a cisão espacial entre populações com rendimentos distintos, sendo que as áreas priorizadas pelos fluxos turísticos, neste caso a orla, são ocupadas pelas populações de maior poder aquisitivo, enquanto a área continental, desprovida de recursos e equipamentos urbanos são ocupadas por populações com os menores rendimentos da cidade.

 

PALAVRAS-CHAVE: Produção do Espaço Urbano; Cidades Litorâneas; Segregação Socioespacial; Santos-SP; Baixada Santista.

 

Production of the Urban Spaces and Social Space Segregation in Santos - SP

 

 

ABSTRACT: The production of the urban space is made socially in the sphere of multiple agents, which produces a space from their interests, being economical or basic necessities, like in the case of Movements for the House Struggle. The work tried to analyze the city structures emphasizing cities near coastal regions, resulted by the capitalist logic of production of space in determined areas that are prioritized by the economic agents and the State in detriment of others, what resulted in social space segregation context. At that, the analysis took place about Santos city structure, from the investigation of the data available by the IBGE 2000 and 2010 and in the elaboration of cartographic representations with the use of geographic information systems. This analysis allows to identify social space segregation contexts in Santos-SP, that visualizes the division between the city sectors, the first one next to the waterfront, occupied by the population with higher incomes, knowing that, the seafront area is prioritized because of the tourist-streams, while the continental zone occupied by the population with less incomes  is desprovide of resources and urban equipaments

 

KEYWORDS: Production of the Urban Spaces; Coastal Cities; Social Space Segregation; Santos-SP; Baixada Santista.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Este trabalho tem como intuito contribuir para análise e compreensão do processo de produção do espaço urbano em cidades litorâneas do Estado de São Paulo a partir da elaboração de representações cartográficas, utilizando dados disponibilizados pelos Censos 2000 e 2010 do IBGE.

Considera-se a produção do espaço urbano, nos moldes traçados por Santos (2001; 2008) e Correa (1989), a qual se dá orientada por interesses de agentes econômicos e permeada por ações e descrições de cunho econômico. Diante de tal matriz teórica, a análise da produção do espaço urbano se dá considerando as dinâmicas do modo de produção capitalista, a partir das ações dos proprietários fundiários, proprietários dos meios de produção e promotores imobiliários (CORREA, 1989), sejam isoladamente, ou de maneira conjunta e igualmente complexa (FIX, 2014), os quais escolhem as melhores áreas da cidade e produzem o espaço orientado por lógicas econômicas, ou seja, de modo que obtenham a maior rentabilidade possível. Entretanto, não podemos deixar de incluir, principalmente ao analisar tal dinâmica no Brasil, os grupos sociais excluídos, os quais se apropriam das piores áreas da cidade, com vistas a solucionar seus problemas de necessidades básicas, neste caso a de moradia (CORREA, 1989).

No âmbito desta análise, partimos da hipótese de que em Santos-SP a produção do espaço urbano orientada nestes moldes produz uma estrutura desigual, em que determinadas áreas são escolhidas pelos agentes econômicos hegemônicos em detrimento de outras, e as piores áreas da cidade são destinadas a ocupação das populações de menor poder aquisitivo e rendimentos.

Diante disto, objetivamos especificamente compreender o processo de urbanização das cidades da Baixada Santista, tendo a utilização de sistemas de informação geográfica como ferramenta.

 

 

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa se pauta no método materialista-histórico-dialético, tendo como conceito norteador o de “formação espacial” ou “formação socioespacial” traçados por Santos (1982), em que os processos que formam o modo de produção são histórica e espacialmente determinados num movimento de conjunto, entendendo o espaço como “matéria trabalhada por excelência”, que produz imposições e determinações as relações cotidianas do homem.

A partir de tal abordagem metodológica, buscamos compreender a estrutura da cidade de Santos-SP e a disposição das populações por segmentos econômicos a partir de levantamento de dados e elaboração de representações cartográficas.

Utilizando-se das publicações do Censo IBGE 2000 e 2010, foram levantadas 19 variáveis para 2000 e 29 variáveis para 2010, em que permitem identificar a ocupação dos setores da cidade por segmentos econômicos, dentre elas a quantidade de população, rendimentos da população, número de banheiros, energia elétrica, número de eletrodomésticos, entre outras.

Após o levantamento das variáveis, foram coletados os dados, junto as planilhas disponibilizadas e reorganizadas em uma única planilha sobre o município de Santos-SP, contendo todas as variáveis delimitadas.

Com o uso do software Quantum Gis, versão 2.18,  os dados coletados junto ao Censo IBGE foram representados cartograficamente na base municipal de Santos-SP dividida por setores censitários, o que nos possibilitou algumas considerações sobre a estrutura da cidade de Santos e a dinâmica de segregação socioespacial.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como resultados, foram elaborados ao todo 19 representações cartográficas do município de Santos-SP referente aos dados do Censo IBGE 2000 e 29 representações cartográficas referente aos dados do Censo IBGE 2010. Algumas destas representações cartográficas seguem a mesma variável para 2000 e 2010 o que permite uma análise histórica sobre determinado tema.

Os responsáveis por domicílios, sem salários mínimos, com rendimentos de  meio e de até 1 salário mínimo ocupam as áreas norte e noroeste geometricamente no município, os setores de até 5 salários mínimos situam no norte, noroeste e centro geométrico de Santos , já os domicílios com rendimentos acima de 20 salários mínimos estão todos concentrados na faixa litorânea da cidade de Santos.

Os responsáveis por domicílios com até 1 ano de estudo estão fixados na região norte e noroeste, os com até 9 anos estão na região central, norte e noroeste, e de 13 anos de estudo até os que fizeram mestrado e doutorado, estão desde o centro até a faixa litorânea da cidade de Santos.

Os domicílios que não tem banheiro estão concentrados no centro, norte e noroeste, os domicílios com até 1 banheiro estão distribuídos nos diversos setores de Santos com ênfase na região central, norte e noroeste, já os domicílios com 2 banheiros estão situados na região litorânea e na região noroeste, e os domicílios com até 4 banheiros estão muito concentrados na região da orla.

De modo geral pode-se visualizar em Santos-SP que a cidade é estruturada socioeconomicamente em três setores distintos, com a concentração das populações com maiores rendimentos próxima a orla, sendo também os setores em que as residências contam com maior número de banheiros e eletrodomésticos pode-se também notar que essa é área onde a qualidade de vida é maior das demais áreas, visto que o abastecimento e a coleta de lixo tem um percentual de 100%.

A partir destes primeiros resultados fica evidente a estrutura segregada socioespacialmente no município de Santos-SP, o que por sua vez, pode acentuar as desigualdades socioespaciais, tanto por acentuar a precarização dos segmentos com menores rendimentos, como por favorecer a condição de vida dos segmentos com maiores rendimentos.

 

CONCLUSÕES

O levantamento de dados junto ao Censo IBGE 2000 e 2010 e a elaboração de representações cartográficas sobre o município de Santos-SP, permite que visualizemos contextos de segregação socioespacial no município, diante da intensa cisão residencial entre as populações de desiguais níveis de poder aquisitivo. É notório o isolamento das populações de menores rendimentos da cidade no setor noroeste e norte, os quais são acentuados pela distância dos espaços de consumo e trabalho, como pela ausência de equipamentos urbanos públicos, como escolas, hospitais, universidades, espaços de lazer, entre outros. Diante desta conjuntura a análise permite concluir que a estrutura segregada da cidade de Santos-SP, tende a acentuar, principalmente, a precariedade das populações com menores rendimentos.

 

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – Campus Cubatão pela concessão de bolsa de Iniciação Científica, o que viabilizou a execução do projeto de pesquisa até o momento.

 

 

REFERÊNCIAS

 

CORREA, R. L. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1989.

 

FIX, M. São Paulo cidade global: fundamentos financeiros de uma miragem. São Paulo: Boitempo, 2007.

 

SANTOS, M. Sociedade e Espaço: Formação Espacial como Teoria e Método. In: SANTOS, Milton. Espaço e Sociedade: Ensaios. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1982.

 

SOUZA, M. L. ABC do Desenvolvimento Urbano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.


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